Amo muito meus direitos

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Lembra quando nenhuma empresa era obrigada a custear a segurança de seus trabalhadores e a insalubridade era comum em quase todos os ambientes de trabalho? E quando a jornada de trabalho era de 10 à 18 horas, por dia? lembra talvez do tempo em o patrão podia exigir horas extras arbitrariamente sem oferecer qualquer tipo de recompensa ou quando o gerente podia controlar as idas ao banheiro e proibia funcionários de sequer olharem pro lado ou pra janela? Pois bem, eu também não. #QuéDizê. No entanto, alguns representantes eleitos estão engajados em fazer que nossos netos e bisnetos vivam esse passado tenebroso.

OPosto

Hoje em dia, boa parte das pessoas desconhece ignora a importância dos direitos trabalhistas e a luta que inúmeros trabalhadores travaram para alcançá-los. Carteira assinada, fundo de garantia, previdência social, seguro para acidentes de trabalho, plano de carreira e outros são direitos conquistados pela pressão organizada de trabalhadores explorados. Você acha mesmo que existiria folga ou férias remuneradas se dependesse dos patrões?

É bom termos em mente que toda relação de trabalho sempre existe uma troca entre quem precisa trabalhar e quem precisa de alguém que exerça alguma função. Contudo, esse relacionamento quase nunca gera compensações justas. Por exemplo, senhores feudais cobravam pelo sustento, pela moradia e pelas ferramentas usadas pelos camponeses que o serviam. Os africanos escravizados ganhavam alimentação, um teto compartilhado, punições e a salvação de suas almas. Ambas não eram tão diferentes dos primeiros operários da revolução industrial, que ofereciam até mais que 18h do seu dia em troca de alguns centavos que os faziam dividir um único apartamento com outras 8 ou mais famílias. Assim, a maneira como vemos contratos de trabalho é herdeira direta do servilismo medievo e da escravidão colonial. Prova disso foi a maneira como a exploração laboral e a concentração dos bens continuaram beneficiando sempre quem oficialmente emprega desde a primeira revolução industrial.

Certamente haverá quem dirá que hoje já não vivemos mais essa realidade, mas dificilmente tal argumento dará o devido crédito a todos que protestaram por condições mais dignas de trabalho. No entanto, basta vermos como uma das maiores companhias de fast food do mundo trata seus, hoje revoltosos, empregados: em condições que todos sabemos serem horríveis e predatórias. E para não continuarmos falando de situações análogas ao que sabemos existir nas fábricas chinesas, basta lembrarmos que somente no ano passado as profissões domésticas foi regularizada. Mas se você acha que isso só acontece com quem não estuda ou se esforça, saiba que em um mercado altamente competitivo e saturado como o nosso, quem precisa de uma vaga de emprego continua tendo mais a perder, porque quem oferece a vaga nem sempre está interessado em contratar o mais habilitado, mas sim o mais esforçado/precisado e, principalmente, o mais barato. #EnvienosSuaPretensãoSalarial

Em uma cultura na qual se espera que funcionários vistam a camisa da empresa, o bem estar dos empregados é o que menos importa. Profissionais de RH adoram motivar o espírito de equipe, porém, nesse time todos disputam entre si. Nele, muito frequentemente somos levados a encarar colegas não como parceiros, mas como rivais numa arena onde só lucra quem comanda o espetáculo. É cada um por si e todos pelo patrão. Quando alguém é duramente golpeado pela pressão do jogo, não se espera que o resto do competidores o ajudem, pelo contrário, esperamos a sua eliminação para que a meta do grupo não seja prejudicada. Algo não muito distinto dos gladiadores romanos – que eram por sua vez escravos.

Por esses e outros motivos, a simples sugestão da vulgarização do contrato terceirizado deveria causar em todos imensa revolta. Se não é difícil conhecermos situações de mascarada exploração, sem o amparo de leis estaremos todos sujeitos a vontade do mercado, onde o que realmente importa não é quem mais sua a camisa e nem tampouco quem tem ideias brilhantes, mas sim o lucro gerado ao mercado financeiro, cuja previsão de aumento persiste até mesmo em períodos de recessão.

Afinal, as leis que atualmente regem as relações de trabalho, assim como qualquer outra lei, foram criadas para prevenir que danos cometidos no passado não se repitam impunemente. Só depois que muitos operários perderam seus membros na linha de montagem e demitidos sem receber qualquer tipo de auxílio que, depois de muitas greves – leia-se prejuízo aos patrões – que segurança, salubridade e seguro de vida trabalhista foram criados. Não para poupar a vida de quem bate ponto, mas para evitar os custos com processos que, inevitavelmente, os empregadores perderiam segundo essas leis. E se você não entendeu a moral da história, entenda que a aprovação disso fará com que qualquer empregador trate seus colaboradores com o mesmo apreço que a nossa sociedade tem pelos pedreiros, porteiros, atendentes de fast food, diaristas, seguranças etc. Retrocedemos ao cenário mais vil e corruptor da exploração humana e isso não é algo que deveríamos deixar passar.

Leopoldo Duarte, via Revista Fórum